A arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) é uma ave da família Psittacidae, originalmente encontrada nas matas brasileiras, hoje é vista raramente e o seu estado de conservação é crítico. Pode ser encontrada no interior do estado da Bahia.
Essa arara torna-se madura para a reprodução aos 3 anos e sua época reprodutiva é entre novembro e março. Normalmente nascem 2 filhotes por vez e a gestação dura em torno de 30 dias. Depois do nascimento das araras azuis, elas ficam cerca de 3 meses no ninho sob cuidado dos pais, até se aventurarem no primeiro vôo.
Restrita à caatinga baiana, na ecorregião do Raso da Catarina, mais precisamente nos municípios de Canudos, Euclides da Cunha, Jeremoabo, Monte Santo, Santa Brígida, Paulo Afonso, Sento Sé e Campo Formoso, a Arara-azul-de-lear é uma das aves brasileiras menos conhecidas e mais ameaçadas de extinção. As ameaças à espécie vão desde a captura e comércio ilegal dessas aves até à intensa perda de habitat, ocasionados pela derrubada da mata nativa por atividades agropecuárias de subsistência, principalmente a criação de caprinos e o cultivo de milho.
As áreas de alimentação são determinadas por concentrações de palmeiras licuri (Syagrus coronata) em meio a árvores mais altas, isso se dá pelo fato de que o bando de Araras-azul-de-lear fica pousado em uma árvore alta enquanto indivíduos (sentinelas) partem para uma vistoria no local de alimentação e só depois o bando todo vai ao local para uma última conferência, e aí sim podem descer às áreas e desfrutar dos cocos de licuri nas árvores ou caídos no solo, o principal item na alimentação dessas araras. Além do licuri, utilizam também os frutos de pinhão, umbu e mucumã. Por vezes foram avistados bandos de araras forrageando em plantações de milho, o que acarreta conflito com agricultores, resultando em abate de aves nessas regiões. Em contrapartida, as criações de cabras na região ameaçam a recomposição natural da vegetação, pois as cabras usualmente devoram as mudas nativas.
Com a chegada das chuvas no final do ano, inicia-se a época reprodutiva. Os casais se separam do resto do bando e fazem seus ninhos em cavidades, nos íngremes paredões de arenito, onde os poucos casais reprodutores criam seus filhotes, numa média de dois por período reprodutivo. Existem dois sítios de nidificação e dormitório, um em Canudos, na região conhecida como Toca Velha, uma RPPN de propriedade da Fundação Biodiversitas e em Jeremoabo, ao sul da ESEC Raso da Catarina, unidade de conservação federal administrado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Bastante semelhante à Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus), a Arara-azul-de-lear é mais arisca, nitidamente menor, com uma plumagem mais desbotada, sendo o dorso e a cauda azul cobalto. Uma exceção em relação às outras araras-azuis é o fato de não dormirem empoleiradas, e sim em fissuras dos “canyons”, onde chegam aos finais de tarde, fazendo estardalhaço e sobrevoando aos bandos até acomodarem-se.
É conhecida cientificamente há 150 anos, mas seu território de ocupação foi descrito há apenas 30 anos. Estima-se que ainda existam cerca de 1000 indivíduos na natureza, isso graças aos esforços voltados para a sua conservação, pois a Arara-azul-de-lear continua criticamente ameaçada de extinção. Esse alto grau de ameaça, aliado ao baixo grau de conhecimento dos comportamentos naturais da espécie, o que dificulta a sua reprodução em cativeiro, justificou a criação no ano de 1992 do “Comitê para Recuperação e Manejo da Arara-azul-de-lear”, cujos integrantes juntamente com o IBAMA, e recentemente o ICMBio, através do CEMAVE (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade), representam instituições nacionais e internacionais de pesquisa e visam a perpetuação da espécie através da elaboração de planos de manejo em cativeiro, conservação, reprodução, reabilitação e, se possível, reintrodução da espécie.