A Arte Egípcia


A arte egípcia refere-se à arte desenvolvida e aplicada pela civilização do antigo Egipto localizada no vale do rio Nilo no Norte da África. Esta manifestação artística teve a sua supremacia na religião durante um longo período de tempo, estendendo-se aproximadamente pelos últimos 3000 anos antes de Cristo e demarcando diferentes épocas que auxiliam na clarificação das diferentes variedades estilísticas adoptadas: Período Arcaico, Império Antigo, Império Médio, Império Novo, Época Baixa, Período ptolemaico e vários períodos intermédios, mais ou menos curtos, que separam as grandes épocas, e que se denotam pela turbulência e obscuridade, tanto social e política como artística. Mas embora sejam reais estes diferentes momentos da história, a verdade é que incutem somente pequenas nuances na manifestação artística que, de um modo geral, segue sempre uma vincada continuidade e homogeneidade.
O tempo e os acontecimentos históricos encarregaram-se de ir eliminando os vestígios desta arte ancestral, mas, mesmo assim, foi possível redescobrir algo do seu legado no século XIX, em que escavações sistemáticas trouxeram à luz obras capazes de fascinar investigadores, coleccionadores e mesmo o olhar amador. A partir do momento em que se decifram os hieróglifos na Pedra de Roseta é possível dar passos seguros a caminho da compreensão da cultura, história, mentalidade, modo de vida e naturalmente da motivação artística dos antigos egípcios.

Estilo e normas

A arte egípcia é profundamente legal.Todas as representações estão repletas de significados que ajudam a caracterizar figuras, a estabelecer níveis hierárquicos e a descrever situações. Do mesmo modo a "simbologia" serve à estruturação, à simplificação e clarificação da mensagem transmitida criando um forte sentido de ordem e racionalidade extremamente importantes.
A harmonia e o equilíbrio devem ser mantidos, qualquer perturbação neste sistema é, consequentemente, um distúrbio na vida após a morte. Para atingir este objetivo de harmonia são utilizadas linhas simples, formas estilizadas, níveis rectilíneos de estruturação de espaços, manchas de cores uniformes que transmitem limpidez e às quais se atribuem significados próprios.
A hierarquia social e religiosa traduz-se, na representação artística, na atribuição de diferentes tamanhos às diferentes personagens, consoante a sua importância. Como exemplo, o faraó será sempre a maior figura numa representação bidimensional e a que possui estátuas e espaços arquitectónicos monumentais. Reforça-se assim o sentido simbólico, em que não é a noção de perspectiva (dos diferentes níveis de profundidade física), mas o poder e a importância que determinam a dimensão.

As cores

A arte egípcia, à semelhança da arte grega, apreciava muito as cores. As estátuas, o interior dos templos e dos túmulos eram profusamente coloridos. Porém, a passagem do tempo fez com que se perdessem as cores originais que cobriam as superfícies dos objetos e das estruturas.
As cores não cumpriam apenas a sua função primária decorativa, mas encontravam-se carregadas de simbolismo, que se descreve de seguida:

Preto (kem): era obtido a partir do carvão de madeira ou de pirolusite (óxido de manganésio do deserto do Sinai). Estava associado à noite e à morte, mas também poderia representar a fertilidade e a regeneração. Este último aspecto encontra-se relacionado com as inundações anuais do Nilo, que trazia uma terra que fertilizava o solo (por esta razão, os Egípcios chamavam Khemet, "A Negra", à sua terra). Na arte o preto era utilizado nas sobrancelhas, perucas, olhos e bocas. O deus Osíris era muitas vezes representado com a pele negra, assim como a rainha deificada Ahmés-Nefertari.

Branco (hedj): obtido a partir da cal ou do gesso, era a cor da pureza e da verdade. Como tal era utilizado artísticamente nas vestes dos sacerdotes e nos objetos rituais. As casas, as flores e os templos eram também pintados a branco.

Vermelho (decher): obtido a partir de ocres. O seu significado era ambivalente: por um lado representava a energia, o poder e a sexualidade, por outro lado estava associado ao maléfico deus Set, cujos olhos e cabelo eram pintados a vermelho, bem como ao deserto, local que os Egípcios evitavam. Era a vermelho que se pintava a pele dos homens.

Amarelo (ketj): para criarem o amarelo, os Egípcios recorriam ao óxido de ferro hidratado (limonite). Dado que o sol e o ouro eram amarelos, os Egípcios associaram esta cor à eternidade. As estátuas dos deuses eram feitas a ouro, assim como os objetos funerários do faraó, como as máscaras.

Verde (uadj): era produzido a partir da malaquite do Sinai. Simboliza a regeneração e a vida; a pele do deus Osíris poderia ser também pintada a verde.

Azul (khesebedj): obtido a partir da azurite (carbonato de cobre) ou recorrendo-se ao óxido de cobalto. Estava associado ao rio Nilo e ao céu.

Lei da Frontalidade

Embora seja uma arte estilizada é também uma arte de atenção ao pormenor, de detalhe realista, que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade, embora com restritos ângulos de visão. Para esta representação são só possíveis três pontos de vista pela parte do observador: de frente, de perfil e de cima, e que cunham o estilo de um forte componente de estática, de uma imobilidade solene.
O corpo humano, especialmente o de figuras importantes, é representado utilizando dois pontos de vista simultaneos, os que oferecem maior informação e favorecem a dignidade da personagem: os olhos, ombros e peito representam-se vistos de frente; a cabeça e as pernas representam-se vistos de lado.
O fato de, ao longo de tanto tempo, esta arte pouco ter variado e se terem verficado poucas inovações, deve-se aos rígidos cânones e normas a que os artistas deveriam obedecer e que, de certo modo, impunham barreiras ao espírito criativo individual.
A conjugação de todos estes elementos marca uma arte robusta, sólida, solene, criada para a eternidade.

Os artistas

Ao lado a ilustração de Imhotep, o primeiro arquitecto conhecido.
Os criadores do legado egípcio chegam aos nossos dias anônimos, sendo que só em poucos casos se conhece efetivamente o nome do artista. Tão pouco se sabe sobre o seu carácter social e pessoal, que se crê talvez nem ter existido tal conceito no grupo artístico de então. Por regra, o artista egípcio não tem um sentido de individualidade da sua obra, ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisições específicas e raramente assina o trabalho final. Também as limitações de criatividade impostas pelas normas estéticas, e as exigências funcionais de determinado empreendimento, reduzem o seu campo de actuação individual e, juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina, fazem do artista um elemento de um grupo anónimo que leva a cabo algo que o transcende.
O trabalho é efectuado em oficinas, onde se reunem os executores e os seus mestres nas diferentes tipologias artísticas, escultores, pintores, carpinteiros e mesmo embalsamadores. Nestes locais trabalha-se em série e os trabalhos saem em série.
No entanto é possível indentificar diferenças entre distintas obras e estilos que reflectem traços individuais de determinados artistas, onde se observam, por exemplo, inovações a nível de composição decorativa. Do mesmo modo tanto é possível reconhecer artistas com talento, genialidade e perfeito conhecimento dos materiais em obras de grande qualidade, como artistas que se limitam a fazer cópias.
Mas o artista é também visto como um indivíduo com uma tarefa divina importante. Mesmo que se trate de um executor ele necessita de contacto com o mundo divino para poder receber a sua força criadora. Sem ele não seria possível tornar visível o conteúdo espiritual, o invisível. O próprio termo para designar este executor, s-ankh, significa o que dá vida.

Variantes temporais

A arte egípcia prima, de um modo geral, pela constante homogeneidade e expressa um mundo pictórico e formal únicos. Esta característica cunha a arte de tal modo, que a identificação de determinada obra como pertencente a este grande movimento estilístico não oferece dificuldade. Contudo existem algumas nuances no seu eixo estruturador que são, em grande parte, resultado da sucessão de acontecimentos históricos.

Período Arcaico ou Tinita

Durante o Período Arcaico, e após a descoberta da escrita, o Egipto está unido e o seu desenvolvimento acelera, estabelecendo-se e cristalizando-se já aqui os traços principais do que será a arte egípcia. Pouco sobreviveu desta época, mas alguns túmulos e o seu respectivo recheio possibilitam uma ideia da arte da época. Perde-se o primitivismo formal e são ainda presentes alguma influências da arte mesopotâmica, especialmente nas fachadas de templos, e domina ainda o uso do adobe cozido ao sol, substituído no final do período pela pedra.

Império Antigo

Obelisco Egípcio ligado ao Sol
A III dinastia é remetida por alguns autores já para o início do Império Antigo. Com a transição para a pedra surge também a arquitectura monumental e a vincada noção egípcia de eternidade vinculada ao faraó. A mastaba assume-se como o túmulo para particulares por excelência, inicialmente em forma quadrangular ou de pirâmide truncada (mais tarde a pirâmide de degraus). As proporções do corpo humano tornam-se mais equilibradas e harmoniosas, cresce a atenção ao pormenor. É também desta altura Imhotep, o nome do primeiro construtor a ficar registado, responsável pelo uso da pedra talhada e da sua aplicação, não só a uma função, como também a objetivos expressivos. A edificação assume um objetivo simbólico.
Com o Império Antigo estabelece-se a calma e a segurança, bases ao próspero e veloz desenvolvimento da sociedade onde se estabelecem hierarquias governamentais. Durante a IV dinastia edificam-se as monumentais pirâmides faraónicas de Gizé (Quéfren, Quéops e Miquerinos) que fascinam pela sua impressionante construção. Talha-se a Esfinge perto da pirâmide de Quefren em dimensões monumentais, assumindo-se e homenageando-se o poder faraónico, embora na V dinastia se reduzam as dimensões monumentais para proporções mais humanas. É também nesta altura que se impulsiona o gosto pelas estátuas-retrato de grande robustez pelo seu volume cúbico e imobilidade. As figuras apresentam-se de pé (em que a perna esquerda avança ligeiramente à frente) ou sentadas (na V dinastia surge também a posição do escriva sentado de pernas cruzadas) e denota-se a diferente coloração da pele usada nas figuras masculinas (mais escura) e femininas (mais clara). Em termos de decoração tumular propagam-se as representações realistas do quotidiano.

Escultura

No que diz respeito à escultura podem ser estabelecidas diferenças de concepção entre a estatuária real e a estatuária de particulares. Na primeira verifica-se um desejo de imponência, enquanto que a segunda tende para um maior realismo, detectável em trabalhos como o grupo escultórico de Rahotep e Nofert (IV dinastia).
A estátua do rei Djoser colocada no serdab do seu complexo funerário em Sakara revela ainda ligações com a arte do período anterior, mas como o rei Khafré e a sua conhecida estátua em diorite na qual o deus-falcão Hórus protege com as suas asas, oriunda do seu templo funerário em Guiza, nota-se já uma evolução. Do rei Menkauré chegaram até aos dias de hoje as chamadas díades e tríades. As primeiras consistem em estátuas do rei com a sua esposa, a rainha Khamerernebti II. Quanto às tríades, o rei surge representado com a deusa Hathor e uma personificação de um nomo.
Do tempo da V dinastia são escassas as estátuas de reis, mas em compensação abundam as estátuas de particulares. São desta época as várias estátuas de escribas que se encontram hoje em dia no Museu Egípcio do Cairo e no Museu do Louvre, que retratam estes funcionários na pose de pernas cruzadas, uma forma de representação que se manterá até à Época Greco-Romana.
Os materiais utilizados na escultura deste período foram diorite, granito, xisto, basalto, calcário e alabastro.

Primeiro Período Intermediário

Os tempos políticos conturbados reflectem-se também na arte tornando-a quase inextistente e com uma maior incidência nos textos literários, que expressam a revolução espiritual da época. Através das pilhagens de túmulos, a arte restrita dos faraós e figuras de maior importância passa para a mão do homem “mortal” que acredita ter o mesmo privilégio da vida eterna.

Império Médio

Após o período de decadência do poder central e de instabilidade política que foi o Primeiro Período Intermediário (e que se reflectiu na arte com o abandono dos cânones estabelecidos) inicia-se o Império Médio que corresponde à XI e XII dinastias.

Arquitetura Egípcia

Na arquitetura Egípcia antiga adaptam-se os padrões estilísticos anteriores ao nível da construção, procurando-se retomar a construção de pirâmides. Contudo, estas pirâmides não atingem a grandeza das pirâmides do Império Antigo. Construídas com materiais de baixa qualidade e com técnicas deficientes, o que resta hoje destas construções é praticamente um monte de escombros. As mais altas pirâmides construídas nesta época foram a de Senuseret III (78 metros) e a de Amenemhat III (75 metros).
Mentuhotep, monarca que reunificou o Egipto após o Primeiro Período Intermediário, manda construir nas região de Tebas Ocidental o seu complexo funerário, no qual se detectam elementos da arquitectura do Império Antigo, como um templo do vale que conduz através de um caminho processional ao templo funerário junto à rocha.

Escultura

A expressão humana na escultura vai ganhar uma nova dimensão e realismo nesta época, passando-se a representar nas estátuas reais o envelhecimento. Mesmo a representação bidimensional perde a sua dependência dos cânones adoptando uma maior naturalidade e mesmo noções de profundidade tridimensional. Nesta época criam-se esfinges reais nas quais o rosto do monarca surge emoldurado por uma juba, como é o caso de uma esfinge de Amenemhat III.

Pintura

Os locais onde a Pintura do Antigo Egipto melhor se manifestou foram os túmulos dos governadores dos nomos, em cujas paredes se recriam cenas de caça, pesca, banquetes ou danças. Seguindo a tradição anterior, o dono do túmulo surge representado em tamanho superior às outras personagens. A pintura é realizada sobre estuque fresco ou sobre relevo.

Artes decorativas e outras artes

 Hipopótamo em faiança
As artes decorativas do Império Médio conhecem uma das épocas mais importantes, sobretudo no que diz respeito aos trabalhos de joalharia. Os amuletos, os pentes, os espelhos, as caixas e as candeiais caracterizam-se pela sua beleza. São bastante conhecidos os pequenos hipopótamos em faiança decorados com motivos vegetais.
A literatura desenvolve o gosto pelo provérbio, o romance, a história, passa também a obedecer a outras funções como as de influenciar a política, homenagear faraós e mesmo descrever e caracterizar profissões. Mas também a cunhar este momento está a inquietude herdada do período anterior.

Segundo Período Intermediário

Este é mais um período escuro e de inseguridade do qual pouco se sabe e no qual se praticaram mais a matemática, a medicina e a cópia de papiros de épocas anteriores.

Império Novo

Arquitetura

No Império Novo dá-se de novo a unificação do Egipto e a arte volta ter mais uma das suas épocas de ouro, com um novo começo em que se vão reavivar as tradições do passado e em que as forças criadoras vão erguer vários edifícios de pedra de construção arrojada e que ainda hoje podem ser admirados.
Foi na capital do Império Novo, a cidade de Tebas, que se ergueram os grandes edifícios desta época. A divindade da cidade era Amon e seu principal centro de culto era o Templo de Karnak, ao qual praticamente todos os monarcas do Império Novo procuram acrescentar estruturas como pilones.
No Império Novo os reis abandonaram a tradição de serem sepultado em pirâmides, optando por mandar escavar os seus túmulos nos rochedos próximos, num local hoje são designado como Vale dos Reis. Nesta atitude são seguidos pelos altos dignitários. A principal razão para esta mudança estaria relacionada com uma tentativa de evitar os saques. Porém, a intenção revelou-se fracassada: dos túmulos desta era apenas chegaram intactos até à época contemporânea o de Tuntankhamon, o do casal Iuia e Tuia (genros do rei Amen-hotep III e pais da rainha Tié) e dos dignitários Sennedjem e Khai.
Num local conhecido como Deir el-Bahari encontra-se o templo funerário da rainha Hatchepsut, mandando construir pelo seu arquitecto Senemut. O templo enquadra-se perfeitamente na falésia de calcário em que se encontra, situando-se junto ao vizinho templo de Mentuhotep II, construído quinhentos anos antes.

A arte de Amarna

Mas ainda na XVIII dinastia dá-se, com Amen-hotep IV (que mudou o nome para Akhenaton), uma revolução religiosa, em que o faraó proclama um "monoteísmo" com o culto de uma só divindade, o disco solar Aton. Nesta altura propaga-se o chamado “Estilo Ekhenaton” ou Estilo Amarniano (em função do nome moderno da cidade mandada construir por Akhenaton, Amarna), que se caracteriza por ser muito naturalista, em que se tenta quebrar com as regras anteriores da solidez e imobilidade. As obras deste período têm maior fluidez e flexibilidade. Principalmente na escultura assumem-se formas orgânicas e pouco geométricas, que atingem por vezes aspectos de caricatura. Os membros da família real são representados em cenas da vida familiar (aspecto completamente novo na arte egípcia) com crânios alongados, que não se sabe se seriam representações veristas da família (avançando alguns autores a hipótese de que a família real sofreria de síndrome de Marfan) ou apenas uma espécie de vanguarda artística. Apesar dos eventuais excessos, data deste período o famoso busto da esposa de Akhenaton, Nefertiti, descoberto em 1922 por uma equipa arqueológica alemã na casa do seu autor, o escultor Tutmés.
O gosto pela representação do mundo animal e vegetal está igualmente presente. Os sucessores de Akhenaton devolvem a arte aos padrões anteriores e com Tutancámon está-se já, de novo, no politeísmo.

Da XIX dinastia egípcia é de referir Ramsés II que impulsionou diversas construções. Neste momento dá-se o pico da pintura e do relevo e a literatura abandona o pessimismo voltando-se para o relato ligeiro de histórias mitológicas, fábulas, épicos de guerra e também para poesia romântica. Até ao final deste período vão-se impor estilos variados não representativos, que retomam antigas tradições, especialmente a nível da escultura.

Terceiro Período Intermediário

A época que se seguiu ao reinado de Ramsés III foi marcada pela progressiva desagregação do poder faraónico, sendo os últimos soberanos da XX dinastia meros reis fantoches. O Terceiro Período Intermediário, época que compreende cerca de trezentos e cinquenta anos e que corresponde à XXI até à XIV dinastias, vai continuar no essencial a arte desenvolvida no Império Novo.
Deste período destaca-se a perfeição alcançada no trabalho dos metais, que se detecta em trabalhos como as máscaras funerárias dos reis Psusennes I e Chechonk II, no pendente em ouro de Osorkon II e na estátua em bronze da adoradora divina de Amon Karomama.

Época Baixa

A XXVI dinastia conseguiu reunificar o Egito, dando início à Época Baixa que se desenrola até à XXX dinastia, embora a presença de povos estrangeiros, como líbios, núbios e persas, é constante neste período.
Durante a Época Baixa o centro do poder real vai localizar-se na região do Delta, onde se encontram as capitais das várias dinastias, como Sais, Mendes e Sebenitos. São nestas cidades que se ordenam os grandes trabalhos arquitectónicos.
Na escultura da Época Baixa verifica-se um arcaísmo, uma inspiração nos modelos da época do Império Antigo. Na XXVI dinastia nota-se igualmente o apuro na polidez da pedra, dando origem a trabalhos que alguns autores denominam como "arte lambida".

Egito ptolemaico

Em 343 a.C. o Egito assiste ao segundo período de dominação persa que termina em 332 a.C., quando Alexandre Magno conquistou o Egito. Após a sua morte será fundada no país das Duas Terras, por um dos seus generais, Ptolemeu I, uma dinastia que governará o país até à conquista romana de 30 a.C..
Apesar da sua origem macedónia, a dinastia ptolemaica adoptou as formas artísticas dos Egípcios. Os reis ptolemaicos foram representados nos templos como os antigos faraós. Das obras que ainda hoje se podem visitar no Egito permaneceram, em maior parte, as do período grego onde a arte adquire a forte influência da harmonia helenística. São desta época os conhecidos templos de Ísis em Filas, o templo de Hórus em Dendera e o templo de Edfu.


A RELIGIÃO NO ANTIGO EGITO

A religião marcava a vida no Antigo EGITO. Os animais eram adorados como divindades. As suas formas e normas eram adoptadas e condicionavam o procedimento humano. Isto justifica a forma como os deuses eram vistos: com cabeça de animal e corpo humano ou vice – versa. Por exemplo: Hátor a deusa do amor, da música e do vinho era representada com corpo de uma vaca ou de uma mulher ou misto. O deus Hórus era representado com cabeça de falcão. O deus Anubis era representado com cabeça de chacal.
Os deuses eram relacionados também com o Sistema Solar. O Sol era engolido ao anoitecer pela deusa Nut e ao amanhecer era representado pelo escaravelho, o deus da vida. Este mudava de nome conforme a posição do Sol: Jepre de manhã, Rá ao meio dia, Aton ao anoitecer.
Só ao faraó era concedida a possibilidade de uma "vida" no além depois da morte. Depois de ter reinado como encarnação do deus Hórus convertia-se no deus do mundo subterrâneo Osíris. O culto dos mortos foi muito popular até ao fim do Império Antigo. Por isso as tumbas dos faraós eram abastecidas por objectos úteis durante a vida e que não podiam faltar depois da morte: alimentos, jóias, roupas, figuras de criados que estavam lá para trabalhar para ele.

DINASTIAS


IMPÉRIO ANTIGO (3.200 a.C. - 2235 a. C.).
Também chamado Império Menfita pois a capital foi transladada para Menfis.
Na I e II dinastias o faraó Menes unificou o Alto e o Baixo EGITO. Na III dinastia o rei Zoser ordenou a construção da pirâmide escalonada de Saqqãrah que foi a primeira construção monumental em pedra da humanidade. As gigantescas pirâmides dos reis da IV dinastia Snofru, Keops, Kefren e Micerino mostram o poder ilimitado do rei.
Este império desmoronou-se durante a VI dinastia com Pepi II surgindo uma desunião espiritual e cultural. Começa então o primeiro período intermédio ou seja uma época obscura e agitada em que o EGITO se afunda na anarquia e desordem social. Estende-se desde a VII dinastia (cerca de 2180 a.C. até ao fim da XI dinastia (cerca de 2060 a.C.).


IMPÉRIO MÉDIO (2060 a.C. – 1650 a. C.)
Durante a XI dinastia Tebas tornou-se a capital do país. No final da XII dinastia começou o segundo período intermédio o mais desconhecido e duvidoso do antigo EGITO. Sabe-se apenas que foi invadido por povos estrangeiros vindos do oriente. A guerra de reconquista e libertação terminou cerca de 1622 a.C. quando Amosis, o fundador da XVIII dinastia, expulsou os invasores até ao sul da Palestina.


IMPÉRIO NOVO (1580 a.C.– 1085 a. C.)
Entre as XVIII e XX dinastias o EGITO atingiu a sua máxima extensão alcançando a Rio Eufrates no actual Iraque. Durante o reinado de Tutmosis.
III o EGITO alcançou a época de maior poder e riqueza. Comandou algumas expedições militares à Ásia onde obteve vitórias famosas em várias batalhas.
Com a corrupção e a crise económica a instalarem-se, teve início o desmoronamento do império. Entretanto os militares tomaram conta do poder. O mais famoso foi Ramsés II. apelidado "o grande" que deixou monumentos colossais para perpetuar os 67 anos do seu reinado.


ÉPOCA TARDIA (1085 a. C. – 323 a.C.) ou terceiro período intermédio:
Da XXI à XXX dinastias o EGITO foi governado por líbios e etíopes e por fim tornou-se uma província persa. O império desmoronou-se completamente com o falecimento de Alexandre Magno, (que foi um libertador do EGITO) a quem se deveu a fundação de Alexandria. Esta cidade chegou a ser depois o centro cultural de todo o mundo antigo.

Principais Monumentos Egípcios

Há 80 pirâmides conhecidas no EGITO. A forma piramidal aparece pela primeira vez durante a IV Dinastia. As pirâmides diferenciam-se pelo seu tamanho e pelos materiais utilizados na sua construção.
As mais conhecidas do EGITO são as Pirâmides de Giseh. Foram construídas à beira do deserto ocidental onde, segundo a antiga mitologia egípcia, começava o reino dos mortos.

Pirâmide de Keops

A Pirâmide de Keops é a de maior tamanho com 227,5 metros de lado e uma altura original de 146,6 metros. É composta por 2,3 milhões de blocos de pedra com cerca de 2,5 toneladas cada um. Através de um corredor ascendente de pouca altura chega-se à grande galeria. Na câmara mortuária de granito rosado só se encontrou um sarcófago vazio sem tampa.
A Pirâmide de Kefrén encontra-se a sudoeste da Pirâmide de Keops. É um pouco mais baixa que esta com 143,2 metros de altura. Tem duas câmaras mortuárias: a primeira nunca foi utilizada. Na grande câmara funerária encontra-se um austero sarcófago de granito sem quaisquer inscrições.
A Esfinge (junto à Pirâmide de Kefren), uma figura esculpida na própria rocha revestida e formada por pedras, tem 57 metros de comprimento de 20 de altura. É a maior do antigo EGITO e data de há 4500 anos. Simboliza as virtudes de um faraó, mistura de corpo de leão com cabeça humana, unem-se as forças física e espiritual.

Pirâmide de Miquerino

A Pirâmide de Micerino tem 62 metros de altura e é a mais pequena e a mais moderna deste conjunto.
Outra Pirâmide digna de nota está a poucos km ao sul de Gizeh. É a Pirâmide Saqqãrah (junto da antiga Menfis) escalonada de Zóser que é a mais antiga construção de pedra do mundo. No seu interior foram descobertos mais de 40.000 vasilhas e de maravilhosos azulejos de louça fina de cor verde azulado. Esta Pirâmide simboliza uma escada celestial pela qual o falecido rei subia até aos deuses.




TEMPLOS DE LUXOR E KARNAK

O Templo de Luxor , junto às margens do Nilo, foi iniciado por Amenofis II., engrandecido por Tutmosis III e terminado por Ramsés II. durante o período de maior riqueza e poder do EGITO Antigo. Por isso são inumeráveis as colunas, estátuas, pátios, mesquitas, santuários, etc., que aí ainda se podem admirar hoje.
À entrada encontra-se um dos dois Obeliscos que marcavam o acesso ao recinto. O outro foi trocado por um relógio em 1833 e erguido na Praça da Concórdia no centro de Paris. Das seis estátuas colossais de Ramsés II. sentado no seu trono, frente à entrada só se conservaram três com 15,5 metros de altura cada.

Obeliscos

Na antiga avenida entre Luxor e Karnak (3 km) efectuava-se uma procissão da família dos deuses. Esse acontecimento está narrado detalhadamente nos relevos da Colunata processional. Era a festa do Opet. Nesta avenida as esfinges que a adornavam foram substituídas por outras com cabeça humana durante a XXX dinastia.
Na sala do nascimento está representado o mito da ascendência divina de Amenófis III.: o seu pai, o grande deus Amon, está sentado numa cama com a sua mãe de mãos dadas. Outros deuses o educam e preparam a ascendência ao trono. Outras estátuas de vários deuses encontram-se noutras salas o que demonstra a grandiosidade do Templo.

Os Templos de Karnak representam a história da antiga capital Tebas. Ao iniciar-se o Império Médio Tebas converteu-se na capital do país e Amon era o deus do Império. Durante os 2.000 anos seguintes os soberanos do EGITO tentaram ultrapassar-se uns aos outros na sua tarefa construtora. O poder e a riqueza do país assim como a influência exercida pelos sacerdotes de Ámon reflectem-se na história da arquitectura desta cidade.
A sua actual configuração remonta às XVIII e XIX dinastias e abarca três complexos diferentes. No centro encontra-se o Grande Templo de Amon, com cerca de 30 hectares, ao sul o Templo da deusa Mut (a esposa de Amon) e ao norte o Templo do deus Montu com cerca de 2,5 hectares de superfície.

A porta de entrada do Grande Templo de Amon é a maior do EGITO com 113 metros de largura e 43,5 de altura.
O conjunto dos Templos de Karnak incluem também um lago sagrado com 120 metros de largura onde os sacerdotes cumpriam os seus rituais nocturnos.

GRANDE SALA DE COLUNAS

Este gigantesco edifício era famoso durante a antiguidade clássica e estava considerado como uma das maravilhas do Mundo. Numa superfície de 5000 m² 134 colunas de 24 metros de altura, em forma de papiros, alinhadas em 16 filas imitam, simbolicamente um bosque sagrado. Nas paredes exteriores desta sala estão desenhados em baixo relevo acontecimentos históricos como batalhas contra os líbios, sírios e palestinianos assim como tratados de paz.
Também são dignos de nota o Grande Páteo com 8000 m2, o Santuário, a Sala de festejos de Tutmosis III, o Templo de Ramsés III e a Porta Oriental onde se encontrava o Obelisco de Letran com 30,7 metros de altura que se encontra agora em Roma.

O VALE DOS REIS

O Vale dos Reis está situado na margem ocidental do Nilo a poucos quilómetros de Luxor.
Tutmosis I da XVIII Dinastia foi o primeiro faraó a mandar construir uma tumba secreta no Vale dos Reis. A preferência por uma tumba neste local deveu-se aos roubos frequentes que aconteciam nas pirâmides. Aqui as entradas ficavam completamente cobertas e sem vestígios do exterior o que proporcionava aos faraós uma "vida eterna" em paz. Mesmo assim para evitar os roubos os protectores de tumbas às vezes tinham que mudar os túmulos dos soberanos à sua guarda para outros lugares. Ramsés III foi sepultado três vezes.
As tumbas foram escavadas no interior da montanha, de rocha caliça, às vezes até aos 200 metros incluindo corredores, escadas e salas. A decoração mural das tumbas foi extraída do Livro dos Mortos onde se narra as alegrias e as tristezas da vida no Além.
A partir de 1881 o segredo local onde estava as tumbas foi revelado o que levou a que várias dezenas fossem descobertas. A maior descoberta foi feita a 4 de Novembro de 1922 por um inglês chamado Haward Carter: a Tumba de Tutankamon que faleceu com 18 anos. Estava repleta de tesouros de enorme beleza e valor incalculável.

Tutmosis III

A Tumba de Tutmosis III. é uma das dez mais bonitas pois foi um faraó de grande originalidade e importância. A Tumba de Seti III. é uma das mais notáveis devido aos seus perfeitos baixo relevos e complexidade da sua construção. Outras tumbas dignas de visita são as de Ramsés VI., Amenofis II.

O VALE DAS RAINHAS

Está situado a 1.5 km do Vale dos Reis. Tem cerca de 80 tumbas, todas muito danificadas e de tamanho mais reduzido. As mais bem conservadas são as dos filhos de Ramsés III. em cujas pinturas sobressai a cor azul marinho.



OS TEMPLOS DE FILAE

Aswan encontra-se a 860 Km a sul do Cairo. Era aqui que os egípcios vinham buscar o famoso granito rosado com que construíam os seus monumentos e pirâmides. Pode ainda ser admirado, nos arredores da cidade, um obelisco incrustado na rocha com 42 metros de comprimento que foi abandonado devido a uma racha durante a sua construção. Foi devido a ele que foi possível conhecer a maneira como os egípcios talhavam a rocha.
A poucos quilómetros de Aswan encontra-se o complexo dos Templos de Filae. Foi construído numa ilha por ser o lugar do sono eterno de Osiris e, por isso, proibido a qualquer ser humano. O santuário principal está consagrado à sua esposa Isis e ao seu filho Harpócrates.

No entanto, com a construção de um dique em 1898 esta ilha passou a ser inundada todos os meses do ano excepto Agosto e Setembro que os egípcios aproveitavam para a visitar em peregrinação pelo culto da deusa.
Mas para evitar a sua destruição pelas águas este complexo foi completamente desmontado entre 1972 e 1980 e reconstruído a 500 metros de distância na ilha Agilkia, que ficava a maior altitude. Foi recriado tal como estava na outra ilha.

O TEMPLO DE ABU-SIMBEL

A 320 km a sul de Asuan encontra-se Abu-Simbel a mais bela e grandiosa construção do maior e mais caprichoso faraó da história egípcia Ramsés II., o Grande.
Em 22 de Maio de 1813 foi descoberta, enterrada na areia do deserto, por Johann Burckhardt a parte superior das quatro estátuas gigantes. Só em Agosto de 1817 foi descoberta a porta de entrada do templo.
A fachada tem 38 metros de comprimento, 65 metros de profundidade e 31 metros de altura. Nela estão quatro estátuas colossais do faraó sentado no seu trono. Cada uma tem 20 metros de altura, 4 metros de orelha a orelha. Ao lado e entre as pernas estão outras mais pequenas dos filhos e da sua esposa Nefertari. O templo também é dedicado ao culto de Amon-Rá, Harmakis e Ptah.
No interior do templo encontra-se um santuário onde se realiza o "Milagre do Sol" apenas duas vezes por ano no dia do solstício em 21 de Março e 21 de Setembro. Um raio de sol atravessa os 65 metros que separa o santuário do exterior e invade de luz o ombro esquerdo da estátua de Amon-Rá. Uns minutos depois atinge Harmakis e desaparece. Esse raio de luz nunca atinge Ptah que é o deus da obscuridade. A decoração das paredes comemora a glória militar de Ramsés.
Junto do Templo de Ramsés encontra-se outro mais pequeno dedicado a sua esposa Nefertari. É constituído por seis estátuas com 10 metros de altura cada representando Ramsés II. e Nefertari (a única esposa de faraó representada na fachada de um templo).

Este templo foi recortado da rocha original em 1036 blocos, com cerca de 30 toneladas cada um e montado 90 metros mais acima a fim de evitar que todo o templo ficasse completamente submerso pelas águas da barragem de Asuan em construção. Além disso foram recortados também 1112 blocos adjacentes ao templo a fim de completar a sua apresentação original. O primeiro bloco foi levantado em 12 de Maio de 1965 e em 22 de Setembro de 1968 foi inaugurado pela segunda vez no seu local definitivo já protegido das águas da albufeira.
Os engenheiros tiveram um cuidado enorme na reconstrução do templo de modo a que fosse possível manter o "Milagre do Sol" o que veio a confirmar-se na primavera seguinte.

CONCLUSÃO

Não há dúvida que sem o rio Nilo nada teria acontecido naquela região, este sempre foi a sua fonte de vida.
São inumeráveis os monumentos deixados pela antiga civilização do EGITO. Porém há muitos mistérios para os quais, com os conhecimentos que temos hoje, ainda não encontramos respostas. Um exemplo: continuamos sem saber como é que pintavam o interior das tumbas com tal precisão e perfeição, sem a iluminação que conhecemos hoje. Como era possível há 3.000 anos ?
Toda a história tão rica dos faraós encontra-se escrita em hieróglifos, nos seus monumentos. Mas alguns pormenores, para compreendermos melhor a civilização egípcia, não foram relatados. Por exemplo: como foi possível transportar, sem se quebrarem, os Obeliscos de Aswan até Luxor (208 km) pesando dezenas de toneladas e com os recursos da época?
O turismo é hoje uma excelente fonte de divisas para o EGITO sendo visitado por vários milhões de pessoas todos os anos. Os cruzeiros no Nilo, as pirâmides de Giseh, os templos de Luxor, Karnak o Vale dos Reis e Abu-Simbel são os locais mais procurados e de fama internacional.
Porém os grupos de fundamentalistas islâmicos da Djamaa Islamiya estão contra o regime actual no país. Estes tentam, por todos os meios, (atentados terroristas inclusivé) diminuir o número de turistas para assim o governo ficar privado das divisas tão necessárias ao seu desenvolvimento.
O presidente egípcio Anuar el Sadat foi assassinado em Albufeira, Portugal, em 1981 por um comando de muçulmanos integristas por ter assinado a paz com Israel e aproximado o seu regime aos países ocidentais.



Bibliografia:

wikipedia.org
portalsaofrancisco.com.br
fehet.blogspot.com