Introdução
Com este trabalho, propomos uma viagem "quase" ao centro da terra, onde as paredes não têm ouvidos, mas contam-nos histórias de Homens possuidores de uma fé inacreditável, que apenas nas entranhas e nas profundezas da terra, encontraram a paz mental e o refúgio das tremendas perseguições de que eram vítimas...
Assim, nas chamadas Catacumbas e longe dos olhares indiscretos dos romanos, estes Homens, transformaram o "nada" em galerias dignas de serem vistas...
Contudo, o processo evolutivo da igreja cristã, sofreu inúmeros contratempos. E somente a pouco a pouco, os romanos foram percebendo que o cristianismo era uma grande religião; porém só no início do século IV, o imperador romano Constantino o Grande, apoiou esta religião e, com os seus sucessores, fez crescer da terra o cristianismo, e com ela a sua arte através de igrejas e basílicas de uma beleza interior estrondosa.
Portanto porquê esperar mais... Quando nas páginas que se seguem, podemos aprender e descobrir muito mais sobre este povo fascinante, que conseguiu "plantar" a sua religião, tornando-se esta no ano de 380, na religião estatal romana...
Da Intolerância à Tolerância
O contexto muda em finais do séc. III quando as invasões bárbaras fragilizam o Império. Com o objectivo de restaurar a unidade moral, certos imperadores como Décio, Valeriano e Galério ordenam a perseguição sistemática dos cristãos, considerados subversivos. Os seus éditos são, no entanto, muito desigualmente aplicados, sobretudo na Gália, onde Constantino os ignora completamente.
De 305 a 313, as perseguições alternam com éditos de tolerância pois a clientela Cristã torna-se o prémio das lutas pelo poder que os senhores de um império dividido em quatro, travam entre si: assiste-se a uma reviravolta do próprio Galério, cujo sobrinho continua, no entanto, à aplicar no Oriente uma política repressiva. Para por fim às perseguições os augustos Constantino - filho de Constâncio Cloro - e Licinio decidem reconhecerem todo o Império a liberdade de consciência e a paz religiosa. Quando mais tarde, Constantino pretende eliminar Licinio, inaugura uma política realmente favorável aos Cristãos. Ao tornar-se, finalmente, único imperador, em 324, promulga a liberdade de culto e estabelece entre o Paganismo oficial e a nova religião um compromisso vantajoso para esta última: são postos entraves aos cultos pagão e judaico, os bens confiscados são restituídos às igrejas, os sacerdotes usufruem de um regime de excepção.
A Igreja sob o Poder do Imperador
O Império torna-se cristão na pessoa dos imperadores. Os sucessores de Constantino, criados na fé cristã, são cada vez mais hostis ao paganismo, fora algumas excepções como Juliano
Tradições diferentes opõem a igreja latina do Ocidente à igreja Grega do Oriente, particularmente no que respeita a fixar a data da Páscoa. A crise mais grave é provocada pelo Bispo Ario, que, ao negar a divindade de Cristo, inaugura um século de controvérsias. O conflito doutrinal é assim politizado, e a tendência do Império para sacralizar o poder vê-se reforçada. Nos concílios, o imperador apresenta-se como o "Bispo do Exterior". Em contrapartida, o Bispo de Roma desempenham um papel bem apagado e, a com excepção de Dâmaso, são raros os papas com alguma envergadura.
A Morte do Paganismo
A "Paz da Igreja" inaugura um período de assimilação e de penetração mais que de expansão. O triunfo oficial do Cristianismo marca a paisagem urbana com a construção de igrejas públicas monumentais que recuperam o plano com várias naves das "Basílicas" judiciárias.
A "Paz da Igreja" inaugura um período de assimilação e de penetração mais que de expansão. O triunfo oficial do Cristianismo marca a paisagem urbana com a construção de igrejas públicas monumentais que recuperam o plano com várias naves das "Basílicas" judiciárias.
A corte, e depois toda a aristocracia, são conquistadas pela Fé Cristã. No Séc. IV, que vê o Imperador abraças oficialmente a nova religião, as conversões fazem-se em massa. Muitas relevam, porém, do oportunismo uma vez que o poder, tanto político como intelectual é Cristão assim, mais vale adoptar a mesma religião que ele.
Paralelamente, faz-se a conquista dos campos. O encerramento dos Templos Pagãos é inevitável e faz-se gradualmente, Graciano estabelecerá a separação do Estado e do Paganismo, iniciando uma política repressiva com a sua lei sobre os apóstatas. Teodósio proibirá os ritos pagãos, as últimas festas pagãs têm lugar na Grécia, em 394 - 396.
PINTURA

A pintura paleocristã é bastante escassa e totalmente simbólica. Restaram alguns afrescos, encontrados nos muros das catacumbas; seus temas eram sempre baseados no Cristianismo, podiam representar orações, figuras humanas e de animais, símbolos cristãos e passagens dos Evangelhos e cenas típicas da vida religiosa da época.
ESCULTURA
A escultura se destaca mais por seu significado e simbolismo do que pelas formas e é encontrada nos sarcófagos. Baixos relevos de pouca qualidade transmitem a espiritualidade. Suas figuras dão ênfase às cabeças, que seriam para eles o centro da espiritualidade. Existem poucas estátuas e quase sempre representavam o Bom Pastor. As decorações dos sarcófagos compreendiam cenas em seqüência, personagens entre colunas e um medalhão central.
As Catacumbas
As PerseguiçõesAs primeiras perseguições graves contra os cristãos foram desencadeadas no tempo de Nero. Supõem-se que esse imperador tenha ordenado, no ano de 64, que se incendia Roma para depois culpar os cristãos .
Em vários períodos posteriores, os cristãos forma tratados como inimigos públicos, pois não queriam participar no culto imperial. Muitos sofreram na arena do circo uma morte sangrenta na luta contra as feras.
Em Roma, no tempo da perseguição, os cristãos tiveram que viver praticamente sob a terra. As chamadas catacumbas eram originariamente túmulos escavados sob uma colina; que com o tempo, converteram-se numa rede de galerias com vários andares, em cujas paredes enterravam-se os mortos em filas de nincho, as catacumbas dizem-nos muito acerca do espirito das comunidades que as patrocinaram. O ritual funerário e a protecção das sepulturas eram de fundamental importância para os cristãos primitivos, cuja fé assentava na esperança de uma vida eterna no Paraíso.
Era também nas catacumbas que os cristãos se refugiavam durante as perseguições de que eram objecto.
A IconografiaA iconografia das catacumbas, exprime claramente uma perspectiva ultra-terrena, embora as formas continuem a ser essencialmente as mesmas da decoração parietal pré-cristã. A divisão do tecto em compartimentos é um eco tardio e altamente simplificado dos motivos arquitectónicos em trompe-l'oeil.
O modelado das figuras e os fundos paisagísticos revelam o mesmo vocabulário romano, onde o pintor utilizava esse léxico tradicional para traduzir um novo conteúdo, simbólico.
Até o enquadramento geométrico, onde os tectos e as paredes estão divididas por bandas vermelhas, pardas ou verdes, em forma de festões participam nessa mesma tarefa, assim e com essa mesma função simbólica o grande circulo ( onde está inscrita a cruz) evocando a cúpula celeste.
Numa imagem poderíamos ver um jovem pastor, com uma ovelha aos ombros, numa atitude que já vinha da escultura arcaica grega, o Bom Pastor que dá a vida pelo o seu rebanho. É evidente que, para os cristãos, este pastor representava Cristo, pastor do seu rebanho. Do mesmo modo que o Pescador também evocava Cristo, pescador de homens. Também o peixe foi utilizado como criptograma para designar cristo, já que as primeiras letras da tradução grega das palavras " Jesus cristo, filho do Deus salvador" correspondiam ao termo grego ichtus, que significa peixe.
Outras figuras como pavão revelam uma alma simbólica, esta é uma ave de luxo, e representa, para uns e outros, um lugar de permanência, cheio de amenidade, que se deseja vir a ser o de quem morre. As plantas e flores foram também adoptadas pelos cristãos. Algumas das pinturas mais antigas da catacumbas romanas são de um estilo ilusionista, com um ligeireza de toque e com uma elegância de desenho que recordam as melhores pinturas de Pompeia e Roma.
Também chamada de Arte das Catacumbas, desenvolveu-se dentro do Império Romano, quando surgiram os primeiros núcleos cristãos.
Em função das perseguições que sofriam, os cristãos refugiavam-se nas catacumbas, até o Edito de Milão, em 313, conceder liberdade de culto aos cristãos.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
- ESPIRITUALIDADE
- SIMBOLISMO
- INSPIRAÇÃO EM TEMAS BÍBLICOS
- SIMPLICIDADE
ARQUITETURA
No momento em que Constantino decidiu conceber aos cristãos liberdade de culto e de propagação da sua fé, houve uma profunda mudança na própria arte cristã.
Pois estes deixaram de viver num mundo subterrâneo e distante dos olhares dos não crentes, assim, como da noite para o dia os fiéis, que até á altura não tinham podido reunir-se abertamente para celebrar o culto em público, sendo as cerimónias religiosas celebradas às escondidas nas casas dos fiéis mais abastados, e nas já referidas catacumbas. Agora a sua fé, até então perseguida, transforma-se em religião lícita. Saindo da semi-clandestinidade para fazer a sua entrada pública em todos os diversos terrenos da vida pública e intelectual.
Para tal, foi preciso criar um novo sistema arquitectural para celebrar a fé cristã, agora oficialmente reconhecida, de modo que a própria Igreja se tornasse visível a toda a gente. O próprio Constantino dedicou todos os recursos do seu cargo a essa tarefa, e dentro de poucos anos foi erguido um número espantoso de grandes igrejas.
A BASÍLICA
Mas embora se tenham levado a cabo várias edificações, estas foram sendo alteradas ao longo dos tempos e nenhuma se apresenta hoje com o seu traçado original. É possível, mesmo assim, formar uma ideia da sua caracterização observando a ilustração da planta original da Basílica de São Pedro, ou o interior da Basílica de São Paulo extra-muros em Roma (que apresenta já algumas alterações, mas que se manteve no seu estado original até 1823).
A basílica paleocristã compõe-se, então, por uma nave central com clerestório de janelas altas, abertas em paredes assentes em arquivoltas ou em arquitraves, cujas colunas fazem a ligação a outras duas naves laterais (colaterais) de menor altura. Todo o espaço segue um eixo longitudinal e converge a oriente na ábside, onde se situa o altar, e que é emoldurada por um arco triunfal. Este arco pode estar assente numa área elevada denominada bema. Em algumas basílicas, entre as naves e a ábside, situa-se uma nave transversal, o transepto, que forma um T com a nave central. Os tectos eram de travejamento à vista, de madeira.
O exterior, pouco ornamentado, oferece a entrada do recinto a ocidente através de um atrium, um pátio rodeado de arcadas, que estabelece a sua ligação à igreja através de um nártex (ver ilustração).
MOSAICO
(Basílica de São Apolinário, Ravena, séc. VI)
A arte paleocristã, podendo agora usufruir de maiores bases financeiras e relegando para segundo plano a pintura mural a fresco, vai procurar aperfeiçoar a técnica e vai brindar o interior da igreja com intensas e vibrantes imagens policromáticas, possíveis pela substituição do mármore por pedaços de vidro colorido. Este novo material não permite, no entanto, uma paleta complexa de matizes e a modelação das figuras perde o seu contacto com o mundo real, as personagens apresentam-se como seres transcendentais, imateriais, habitantes de um reino de luz e ouro.
Pouco sobreviveu destes primeiros mosaicos do paleocristianismo, mas supõe-se que cobririam as grandes superfícies da ábside, do arco triunfal e da nave, representando cenas bíblicas. Crê-se que a sua variedade formal tenha ainda herdado muito da arte romana adaptando-a aos novos conteúdos religiosos e isso pode-se ainda observar-se na Basílica de Santa Maria Maggiore pela forte geometrização e pelo ilusionismo espacial. É também de referir o novo objectivo de sintetizar as formas para que estas sejam compreensíveis à distância, ou seja, para que a mensagem principal possa ser compreendida de longe. Este facto vai acentuar a importância simbólica do gesto e do olhar como elementos relevantes na transmissão de mensagens, sendo também para isso distorcida a sua proporção em relação à figura.
ILUMINURA
(Génesis de Viena)

Poucas são as iluminuras do paleocristianismo que sobreviveram até aos nossos dias, mas o pouco que se conhece a partir do século V, apresenta uma rica variedade cromática que recebe inicialmente muita da influência da estrutura espacial e geometrização da pintura greco–romana. No Génesis de Viena, uma das mais antigas iluminuras conhecidas do cristianismo, pode–se observar a sumptuosidade das cores e já a quebra com o uso de molduras de limite espacial. Aqui as imagens e o texto fazem parte de um todo em comunhão. De modo a optimizar o aproveitamento de espaço no pergaminho, a descrição dos acontecimentos não se desenrola em bandas horizontais, mas sim seguindo uma linha curva imaginária onde os diferentes momentos se vão sucedendo sem interrupção, a designada narração contínua.
ESCULTURA
DÍPTICOS DE MARFIM
De herança clássica, os dípticos de marfim (duas abas com relevos no exterior em marfim e superfície de cera no interior) eram peças pessoais de trabalho decorativo requintado, que serviam de invólucro para guardar documentos ou manuscritos. Reflectindo gostos pessoais estas peças possuiam, muitas vezes, a conjugação de elementos clássicos e simbologia cristã, consoante a fé do autor da encomenda.
BUSTOS
Embora se tenha renunciado à escultura de escala monumental, o busto de forte tradição clássica mantém-se por um longo período, efectuando-se retratos de carácter formal abstracto e transcendental, de imperadores e altos funcionários do estado.
Curiosidades
A Conversão de ConstantinoQuando da batalha da Ponte de Mílvio, Cristo aparece ao Imperador. É o acontecimento miraculoso que vai decidi-lo a abraçar a religião cristã.
Oriundo de uma família tolerante que pratica um sincretismo solar, Constantino é um místico e um visionário. Afirma-se muito cedo monoteísta, mas o seu cristianismo permanece muito tempo ambíguo, e o sinal misterioso - o lábaro - com que marca o seu exercito em 312, quando da batalha de Mílvio, tanto pode ser um símbolo solar como cristão. A conversão de Constantino faz-se por etapas, de acordo com os seus interesses políticos, e o Imperador só recebe o baptismo no seu leito de morte em 337.
Helena mãe de ConstantinoUma heroína pouco conhecida, de que a lenda depressa se apoderou.
Helena, oriunda de Drépano, na Bitínia, na actual Turquia era provavelmente criada numa taberna quando conheceu o Imperador Constâncio Cloro, que fez dela sua concubina e de quem teve um filho, mas que nunca a desposou e acabou por repudiá-la antes de casar com Teodora em 289. Cristã, influenciou certamente o filho num sentido favorável ao Cristianismo, mas não conseguiu convertê-lo enquanto foi viva.
Quando Constantino se torna Imperador, por morte de Constâncio Cloro, decide chamar a mãe à corte de Nicomédia e atribuir-lhe um título de augusta. Helena torna-se assim, finalmente, imperatriz.
No fim da Antiguidade, os Cristãos dedicam-lhe uma grande devoção, atribuindo-lhe a descoberta das relíquias mais preciosas: em 326, pouco antes de morrer, Helena fez uma peregrinação a Jerusalém, onde teria descoberto os restos da cruz de Cristo e os instrumentos da Paixão, que teria levado para Constantinopla.
O Caso de TessalonicaO Imperador Teodósio I, que faz do Cristianismo a religião do Estado tem de humilhar-se diante do Bispo de Milão.
Um episódio sangrento de testemunha pelas suas consequências, que, apartir de 390, a igreja cristã se tornou suficientemente forte para aparecer como uma autoridade capaz de submeter o poder político.
Na sequência de uma revolta popular no circo de Tessalonica, capital da província da Macedônia, Teodósio I ordena que os habitantes da cidade sejam arrebanhados e executados. Três mil pessoas são assim selvaticamente chacinadas. Ameaçando de excomunhão por Santo Ambrósio, bispo de Milão, o imperador submete-se e faz penitência ajoelhando publicamente diante do alto dignitário da Igreja. Prestes a desaparecer, o poder romano inclina-se assim, pela primeira vez, diante de uma nova força.
Depois de lermos e de observarmos tais obras, apercebemo-nos da paixão da fé e também da força de vontade destes cristãos, que através de Basílicas magnificas, frescos deslumbrantes e mosaicos únicos, conseguem levar os nossos olhos até um Mundo celestial bem, distante do nosso... Um Mundo ver que encanta milhares de pessoas, um Mundo que conseguiu imergir da terra uma religião que na actualidade é considerada a mais praticada em toda a Europa.
Bibliografia:
joanario.no.sapo.pt
wikipedia.org
portalsaofrancisco.com.br
fehet.blogspot.com